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Estudantes da rede pública de Sorocaba  lançam satélites para coletar dados da cidade

2/6/2024


Estudantes da rede pública de Sorocaba 

lançam satélites para coletar dados da cidade


Por Daniela Jacinto*, equipe Estudos em Sorocaba & Região


Estudantes do 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública estadual de Sorocaba criaram dois satélites no estilo Cubesat, ou seja, em miniatura, no formato de um cubo, com o objetivo de desenvolver pesquisas espaciais. Ambos cabem na palma da mão e estão disponíveis para prestar serviços ao município. O Sorosat-1 foi projetado para coletar dados sobre radiação na cidade e o Sorosat-2 tem como objetivo medir temperatura, pressão e altitude em cada instante de sua subida. Ambos foram lançados ontem por um balão de alta altitude no Parque das Águas. A proposta é dar continuidade aos estudos e traçar um panorama mais completo sobre essas questões ambientais.


De acordo com os participantes do projeto, da Escola Estadual “Profª Antonia Lucchesi”, situada no bairro Jardim Leocádia, zona norte da cidade, os satélites foram desenvolvidos dentro do projeto Sorocaba Espacial com a proposta de colaborar com a cidade, oferecendo informações importantes sobre índices de radiação ionizante em alta atmosfera e o quanto isso pode impactar equipamentos e células orgânicas. “A partir do momento que consigamos fazer lançamentos com uma regularidade maior, poderemos traçar um panorama destes dados e a forma como se comportam em diferentes épocas do ano, colaborando, por exemplo, com a agricultura. Mas também em tempos de ebulição global, acredito que todos os dados coletados contribuem para o aumento do conhecimento com relação a este tema. Os dados atmosféricos são apenas um exemplo dos dados que podem ser obtidos”, explica Yolanda Bezerra de Andrade, professora responsável pelo projeto.


Participa desse trabalho, ao lado da professora Yolanda, o professor pesquisador César Hipólito Pinto, orientadores dos estudantes Brendo Yommy Araujo Yamashiro, Caio de Andrade Nogueira e Luiz Fernando Alves Santos.


O lançamento só foi possível graças ao apoio da UFABC, através do curso de Engenharia Aeroespacial, que doou o gás hélio; e às parcerias com a Samedu (startup brasileira de robótica), a ETEC Armando Pannunzio, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) de São José dos Campos, o Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS) e o IFSP de Sorocaba.


Os dados coletados pelos satélites foram gravados em cartões de memória e assim que possível serão disponibilizados no site do projeto https://caiokotan.github.io/sorosat-oficial


De acordo com o grupo, a ideia é lançar os equipamentos outras vezes, para poder dar continuidade ao estudo, porém como o custo do gás hélio é alto, existe a necessidade de ajuda financeira. Interessados em apoiar a iniciativa podem entrar em contato com a professora pelo telefone (15) 99685-1581.


De Sorocaba para o mundo 


Os satélites foram embarcados ontem em no balão BAA-Sorocaba, integrando a iniciativa de estabelecer Sorocaba como base operacional de experimentos científicos de baixa órbita em toda a região. “Queremos levar o nome da nossa cidade para além dos seus limites territoriais e mostrar que é possível desenvolver tecnologia de ponta a partir de escolas públicas, com o apoio da iniciativa privada e de outras instituições públicas”, diz a professora Yolanda Andrade, responsável pelo projeto.


Por volta das 11h30, a equipe comunicou a torre de comando do Aeroporto de Sorocaba, que liberou o lançamento a partir das 12h. “Foi acima de 25 km”, comemora a professora, que juntamente com os demais membros do projeto vem lutando pelo lançamento desde o início do ano. 


Mesmo com uma trajetória de classificação nas três primeiras fases da Olimpíada Brasileira de Satélites do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MTCI) e com apresentação no Science Days, que ocorreu este ano em Campinas, o satélite correu o risco de ficar apenas no projeto. Isso pela dificuldade em apoio financeiro para comprar o tal do gás hélio.


O professor pesquisador César Hipólito afirma que um lançamento custa entre R$ 8 e R$ 9 mil devido ao valor do gás hélio. “Vivemos em busca de patrocínio”, diz. 

Conforme Yolanda, o grupo buscou o apoio da Prefeitura de Sorocaba através do Parque Tecnológico. “Solicitamos o financiamento do gás hélio, mas infelizmente não conseguimos”, afirma Yolanda. O PTS colaborou apenas com a impressão em 3D do satélite. E assim teve continuidade a busca para a concretização do lançamento. Foram meses até conseguir. O apoio veio de fora da cidade, por meio de um lançamento apenas para teste que a UFABC, de São Bernardo do Campo, faria em Sorocaba. “Eles não utilizariam todo o gás e cederam o restante para nós”, conta Yolanda.


O projeto, que começou despretensiosamente dentro da escola, no ano passado, foi ganhando destaque e agora se tornou independente. 


Professora de Geografia na escola pública há 21 anos, Yolanda durante toda a sua carreira sempre buscou envolver seus alunos em projetos que unem Geografia e Ciências, chamados de Geociências. Ela afirma que a proposta maior do lançamento de satélites como o Sorosat-1 e 2, está em desenvolver o pensamento científico e tecnológico nas escolas. “O projeto teve um enriquecimento de conhecimento inclusive no desenvolvimento computacional. São tantas as vantagens que é difícil mensurar”, complementa.


Dois dos estudantes que participaram do projeto aceitaram contar para a reportagem as suas experiências. Caio de Andrade Nogueira atua na área de desenvolvimento de jogos, sites e aplicativos desde 2020 e anteriormente ao projeto já tinha conhecimento de algumas linguagens de programação. “Atualmente já possuo um conhecimento mais vasto da área e com isso sinto que tive grande participação no projeto. Em uma decisão da equipe eu me tornei responsável pelo desenvolvimento computacional e a manutenção e utilização de qualquer ferramenta digital para o desenvolvimento do satélite”, conta. 


Para Caio, o projeto tem grande impacto em sua minha vida acadêmica. Ele acredita que futuramente venha impactar diretamente sua vida profissional. “O projeto também me proporcionou total admiração e respeito pelo trabalho dos professores orientadores, não só pelo apoio que queríamos mas também pela oportunidade que precisávamos.”


Luiz Fernando Alves Santos afirma que os satélites são fruto de um árduo trabalho realizado por ele e seus companheiros. “Muito importante pra mim é claro, pois tenho como objetivo cursar engenharia aeroespacial no ITA. Esse satélite só alavancou ainda mais esse meu apreço pela área”.


A função de Fernando foi a montagem das placas eletrônicas. “Eu soldava o microcontrolador e os sensores de captação de dados em uma PCB. Foram duas dessas placas, uma voltada à radiação, outra a dados atmosféricos e uma placa geiger”. 


O projeto durou quase um ano, lembra ele. “Começamos no início de 2023 e fechamos o satélite pela última vez em dezembro, porém depois disso realizamos algumas mudanças, principalmente do hardware, que é a minha área, realizando troca por um microcontrolador melhor e com mais funções.”


Conforme o estudante, a ideia inicial era que a partir da popularidade do projeto, Sorocaba virasse um polo de lançamento de satélites, porém, verba é algo complicado. “É muito difícil patrocínio na área científica, mas nós não desistimos. A professora Yolanda me ensinou: o ‘não’ já temos.”


Programa Sorocaba Espacial


Os mini sorocabanos Sorosat-1 e Sorosat-2 surgiram a partir da proposta do programa Sorocaba Espacial, que teve início em 2019 dentro do projeto Ideias Mecânicas Avançadas (IMA),  idealizado pelo professor pesquisador César Hipólito juntamente com a professora Veronica Trevizoli.


César, que é formado em Engenharia Física e doutorando em Física Espacial pelo ITA, afirma que a proposta surgiu como forma de incentivar a pesquisa espacial, que é uma área muito desenvolvida no exterior e ainda carente de investimentos no Brasil. 


De acordo com ele, é uma forma de captar mais jovens para a Ciência. “Para se ter ideia, a gente tem 700 cientistas por 100 mil habitantes enquanto países da Europa têm 7 mil cientistas por 100 mil habitantes,  então estamos muito distantes das grandes potências”, afirma. 


O estímulo ao lançamento de balões meteorológicos se estende a estudantes desde o fundamental até o ensino superior. “Do ponto de vista didático, é uma imersão na cultura Steam, que abrange as áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática”, complementa. 


O programa recebe experimentos dos mais diversos. “Quanto aos resultados, depende do que cada escola pretende realizar, cada escola define o que quer estudar e depois de lançado o balão é devolvido para a escola fazer o estudo dos dados”, explica

.

Tudo em detalhes


Segue neste texto um resumo de todo o projeto, enviado pela professora Yolanda. Confira:


“Sorosat-1 e 2 fazem parte de uma missão de demonstração tecnológica e científica, com o uso de nanossatélite da classe padronizada conhecida como Cubesat 1U, com computador de bordo e controle de altitude, totalmente desenvolvida pelos alunos e professores da equipe.


“A missão surgiu de forma independente, inspirada Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), na Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), e em projetos experimentais da Olimpíada Brasileira de Satélites (OBSAT).


“O projeto buscou a construção do satélite, em forma de cubo, para coletar dados de temperatura, umidade, pressão, altitude e radiação ultravioleta em cada instante da subida, em conformidade com as normas internacionais para um Cubesat de 10 x 10 x 10 cm. Os dados a serem coletados pela missão são de interesse da comunidade e serão importantes para introduzir o conceito de ‘new space’, que viabiliza o desenvolvimento mais eficiente, com custos reduzidos, cronogramas mais curtos e uma pequena equipe.


“Na atualidade, ao redor do mundo, existem projetos sendo executados para a construção de Cubesats voltados à educação, nos mais variados níveis de formação, dos estágios mais fundamentais aos mais avançados. A própria concepção original dos Cubesats favorece sua aplicação para fins educacionais e fornece a capacidade de serem desenvolvidas habilidades como trabalho em equipe e integração de sistemas. 


“Seu desenvolvimento ofereceu a possibilidade dos participantes serem expostos ao ciclo completo de gerenciamento e desenvolvimento de um projeto espacial, permitindo o envolvimento direto dos estudantes no desenvolvimento e validação de tecnologias espaciais, promovendo a educação científica rumo à agenda do desenvolvimento sustentável. Sendo de grande valor também para Sorocaba, uma vez que com a validação das tecnologias embarcadas no satélite, as mesmas poderão ser utilizadas em outras missões, fortalecendo a participação de Sorocaba no cenário nacional na área espacial.


“A visão interna do satélite tem as seguintes cargas úteis: contador Geiger; BMP 280 para temperatura, pressão e altitude; DHT11 para umidade do ar; magnetômetro; giroscópio e acelerômetro.”


* Daniela Jacinto é jornalista e professora da rede pública de ensino


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