Bem-vindo(a)

Encontre aqui a oportunidade para mudar de vida


blog09072023congresso

Congresso Internacional de Educação rende parcerias para Votorantim

10/7/2023


Congresso Internacional de Educação 

rende parcerias para Votorantim


O município de Votorantim estabelecerá parceria com educadores que participaram do 9º Congresso de Educação e 1º Congresso Internacional de Educação, realizado na terça e quarta-feira passadas, no Auditório Municipal Francisco Beranger. Uma delas será com o renomado professor José Pacheco, fundador da Escola da Ponte, em Portugal. 


Pacheco tem desenvolvido projetos de comunidades de aprendizagem, em que as propostas educacionais são experimentadas na prática, e se dispôs a passar seu conhecimento voluntariamente para professores da rede, que serão selecionados para compor a equipe.


Outra proposta recebida pela Secretaria da Educação envolve alfabetização, com a professora doutora Rosaura Soligo, coordenadora de projetos do Instituto Abaporu, parceiro de várias Secretarias de Educação no Brasil. 


De acordo com a professora Isabel Cardoso, que integra a equipe da Secretaria da Educação e foi uma das responsáveis pela escolha dos palestrantes, a premiada professora Doani Bertan - idealizadora do projeto Sala8, que disponibiliza videoaulas para estudantes surdos no Youtube -, voltará a Votorantim para falar mais de inclusão. 


Já com relação a Paulo Fochi, membro de grupos de trabalho sobre pedagogias participativas, os professores do município o acompanham muito e têm feito essa troca. “Não é algo que foram dois dias só de Congresso, rendeu frutos para quem acredita numa educação de qualidade, quer estudar e deixar o trabalho ainda melhor”, afirma.


O Congresso, que teve como tema “Diálogos com o currículo à luz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, foi uma realização da Prefeitura de Votorantim, por meio da Secretaria de Educação. O evento contou com participação de professores da rede pública de Votorantim, além de representantes de prefeituras da região e de entidades ligadas ao setor de educação. Apresentações culturais de dança e teatro fizeram parte do encontro. 


De acordo com a secretária de Educação de Votorantim, Suad Oliveira, este foi o primeiro congresso internacional da cidade. “Ficamos quatro anos sem ter congresso presencial e voltarmos ainda sendo internacional, isso nos deixa bastante orgulhosos”, comemora. Suad ainda destacou o nível de conhecimento dos profissionais que passaram pela cidade nestes dois dias, o que agregou muito aos professores da rede municipal.


A prefeita Fabíola Alves também falou com a reportagem. “Cada vez que a gente promove um evento como esse, de qualidade, a gente reverte isso pra nossa rede, valoriza mais os profissionais.”


A organização do Congresso ficou a cargo do grupo UP Educar. 

Humanização do ato de aprender


O professor José Pacheco deu início às palestras na terça-feira (4) com o tema “BNCC - Novas construções sociais de aprendizagem”. Para quem não é da área da educação, é importante destacar que além de ser o criador da Escola da Ponte, estudada nas faculdades de pedagogia brasileiras, José Pacheco coordenou o projeto “Fazer a Ponte no Brasil”, que conquistou o 1° Prêmio do Concurso Experiências Inovadoras no Ensino, promovido pelo Ministério da Educação. Pela sua relevante contribuição para uma educação de boa qualidade, foi-lhe atribuída pela Presidência da República a “Comenda da Ordem da Instrução Pública”. Pacheco ainda acompanha inúmeras iniciativas inovadoras, entre elas o Projeto Âncora, em Cotia, referência nacional em novas práticas educativas. 


Durante a palestra, ele falou sobre autenticidade, relação, vínculo e humanização do ato de aprender. Conforme Pacheco, o professor não deve olhar para o que o aluno não sabe, mas sim descobrir o que já conhece e a partir daí desenvolver o seu trabalho, numa relação de parceria em que juntos vão em busca do saber. 

O que ocorre ainda nos dias de hoje, lamentou Pacheco, é que as salas de aula são cemitérios de talentos. Ali em público, o professor português propôs a Votorantim vivenciar na prática a escola transformadora, se disponibilizando voluntariamente a uma parceria com a cidade, que foi abraçada de pronto pela Secretaria da Educação.

Um não bem redondo aos métodos antigos


No período da tarde, a professora doutora Rosaura Soligo falou sobre “Alfabetização social: o que a ciência tem a ver com isso?”. Rosaura é envolvida com grupos de pesquisa relacionados a alfabetização inicial e um deles é o Grupo Latinoamericano de Especialistas em Alfabetização e Cultura Escrita. Também é membro da Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, a BIOgraph. 


A especialista mostrou-se indignada com tantos educadores ainda recorrendo a métodos antigos para alfabetizar quando a Ciência já provou, há mais de 40 anos, que há métodos mais eficazes e voltados de fato ao letramento. Sua preocupação é que apesar de todos os estudos e pesquisas, a escola continua produzindo analfabetos funcionais. 


Rosaura afirma que já foi comprovado que a criança aprende a ler por palavras inteiras e não por letras ou pedaços dela, então os métodos que ensinam as letras separadas, os sons delas e as sílabas, para depois juntar tudo e formar palavras, estão ultrapassados e produzem estudantes com dificuldade de interpretação de texto. Ela defende que a alfabetização deve ser feita com muita leitura de textos e exercícios de escrita. “Você aprende a se alfabetizar dentro de um contexto de se tornar leitor e escritor também, ao invés de tentar posteriormente correr atrás”, disse. De acordo com Rosaura, a leitura, a produção de texto, a revisão e quase tudo na Língua Portuguesa são procedimentos, em que se aprende pela frequência. “Então o ideal é que esteja sempre na rotina”, complementou.


Como proposta para reflexão, Rosaura deixou aos professores o seguinte texto: “Essas propostas nada têm a ver com a crença de que ler é decodificar. Nada têm a ver com a crença de que escrever é copiar. Nada têm a ver com a crença de que aprender é repetir. Nada têm a ver com a crença de que é necessário criar situações artificializadas – inventadas – só para alfabetizar. Nada têm a ver com a crença de que os métodos de ensino de sílabas são adequados. Nada têm a ver com a crença de que o treino do som das letras é um bom caminho. Nada têm a ver com a crença de que as atividades de uso da leitura e da escrita vêm depois de aprender a ler e a escrever.” 


Então quais são as propostas mais adequadas de alfabetização inicial? “Ler e escrever o próprio nome. Escrever como conseguir (sempre do melhor jeito que puder). Revisar escritas coletivamente com a ajuda da professora. Encontrar palavras em versos de textos conhecidos. Encontrar palavras em listas de nomes e coisas significativas ou de respostas para desafios lúdicos como adivinhas, cruzadinhas ou álbum de figurinhas. Ordenar textos poeticamente conhecidos. Tudo isso sempre em situações reais de leitura e escrita de textos reais.”


A especialista finalizou deixando o endereço de seu site oficial onde os educadores podem encontrar vasto material para auxiliar em seu trabalho: https://rosaurasoligositeoficial.wordpress.com.



Mini histórias pedagógicas


O professor Paulo Fochi abriu as palestras do segundo dia com o tema “A escuta das crianças”. Doutor em Educação na linha de Didática e Formação de Professores pela USP, Paulo é membro da Associação Criança (Braga, Portugal), membro dos grupos de trabalho sobre educação de 0 a 3 anos e pedagogias participativas e investigação praxiológica da Associação Europeia de Pesquisa em Educação Infantil. Também atuou em diversos trabalhos junto ao Ministério da Educação, sendo um dos quatro consultores para a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil. Paulo defende uma educação humanitária, em que a escuta seja exercida pelo docente. Conforme ele, escutar é na realidade uma arte para entender a cultura infantil: sua forma de pensar, fazer, perguntar, teorizar e como se dá a sua relação com o mundo. 


Durante a palestra, Paulo contou sobre sua experiência com as mini histórias, que são pequenas histórias do cotidiano escolar. As mini histórias mostram um olhar mais atento do professor para o desenvolvimento infantil a partir de observações sobre o processo de aprendizagem individual de cada estudante. O trabalho do pedagogo consiste em fazer registros fotográficos e escrever pequenos relatos do processo de aprendizado da criança, de suas descobertas e experiências. As mini histórias posteriormente são mostrados aos pais, como forma de verem como anda o desenvolvimento de seus filhos. E tem feito muito sucesso entre as famílias. E qual é o sentido de trabalhar com mini histórias? Elas mostram que a aprendizagem se dá de muitas maneiras e de forma diversificada para cada ser. Cada pessoa é única e está em seu processo, que deve ser conduzido pelo professor e não atropelado por padrões.

 

Paulo afirmou que uma das pautas mais importantes da sociedade é lembrar que existem humanos educando humanos. “O Nóvoa escreve isso no livro dele, é algo que está no novo Pacto pela Educação da Unesco. Fazer educação é um processo civilizatório. Quando a gente tenta fazer da escola um espaço de encontro, de relação e comunitário, com certeza essa pode ser uma chave importante para reduzir o abandono escolar, o principal é celebrar a humanidade que tem de existir dentro da escola, a diversidade”, pontuou.


O professor recorreu mais uma vez a Nóvoa para dizer que a escola é o lugar onde se entra em contato com toda a humanidade. “E ali está o valor dela, que é o valor de bem comum.”

Educação para todos


O encerramento do Congresso ficou a cargo da professora “Barbie” Doani Bertan, que debateu “A necessidade de fazermos uma educação para todos”. Doani teve sua imagem transformada em uma boneca Barbie em homenagem pelo trabalho pioneiro em fazer videoaulas para surdos. É um modelo único e não é colocado à venda, porém é muito divulgado como forma de inspiração para as meninas. 


Doani é pós-graduada em Prática e interpretação de Libras avançada, com ênfase na elaboração de material didático bilíngue português/libras, e é professora bilíngue na Emef Júlio de Mesquita Filho, em Campinas, atuando como professora polivalente de estudantes surdos e ouvintes do ensino fundamental I e II. 


A criadora do projeto Sala8 - que disponibiliza videoaulas para estudantes surdos no Youtube -, ficou, em 2020, entre os dez melhores professores do mundo no Global Teacher Prize, conhecido como o Nobel da Educação. Doani afirma ser contra a educação inclusiva aos moldes que tem sido feita atualmente, em que ao se falar em inclusão, já se começa a promover a exclusão. Seu sonho é que haja equidade e de fato a escola seja para todos. Doani afirma que uma aula que atenda a diversidade de saberes deve ter diversidade de atividades. Ou seja, o mesmo conteúdo aplicado de formas diferentes para contemplar todas as necessidades. “A criança que não escreve ou não vai escrever tem o direito de mostrar o seu conhecimento, seja por meio de registro oral ou de outra forma. Há várias maneiras de facilitar o conhecimento e o professor tem a obrigação de fazer isso: primeiro educar para depois ensinar”, defende. 


Veja vídeos do Congresso no nosso Instagram e Facebook. (Por Daniela Jacinto, do site Estudos em Sorocaba & Região)

Share by: