16/10/2022
Déficit de professores no Brasil pode chegar a 235 mil em 2040
O número de professores No Brasil diminuirá 20,7% até 2040 em todas as etapas do ensino básico. Considerando a demanda e a oferta, o déficit de docentes deve chegar a 235 mil. A informação é do Instituto Semesp, que realizou a pesquisa inédita “Risco de 'apagão' de professores no Brasil”.
De acordo com o estudo, considerando a taxa atual de 20,3 pessoas com idade entre 3 e 17 anos para cada docente em exercício na educação básica, em 2040, serão necessários 1,97 milhão de professores para atender a demanda de alunos na mesma proporção de hoje. No entanto, mantendo as mesmas taxas de crescimento de 2021, estima-se que os professores em atividade nesse ano será de 1,74 milhão. O motivo para o déficit é a baixa procura pelos cursos de licenciatura em todas as áreas da educação básica por parte dos jovens.
Para se ter uma ideia, o crescimento de ingressantes em licenciaturas, de 2010 a 2020, foi bem inferior ao crescimento registrado nos demais cursos. Em 10 anos, o número de calouros em licenciaturas cresceu 53,8%, porém, nos demais cursos, o crescimento foi de 76,0%. Além disso, o número de ingressantes com até 29 anos em licenciaturas cresceu apenas 29,7%, enquanto nos demais cursos esse número chegou a 49,8% na mesma faixa etária. Já entre os calouros em licenciaturas com mais de 29 anos, o aumento foi de 94,4%.
Além do desinteresse em ingressar em licenciatura, o número de professores jovens em início de carreira (com até 24 anos) caiu quase pela metade (42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil professores com até 24 anos. Enquanto o número de professores com 50 anos ou mais e, possivelmente na iminência de se aposentar nos próximos anos, tem aumentado significativamente, chegando a subir 109% no mesmo período, o que indica o envelhecimento do corpo docente nos últimos anos, com destaque para o número crescente de profissionais prestes a deixar o cargo.
A pesquisa mostra que o desinteresse do jovem em seguir a carreira de professor está relacionado a diversos problemas, entre eles o processo de precarização dessa profissão, como a baixa remuneração e a falta de reconhecimento de sua importância perante à sociedade. Em 2020, um professor do Ensino Médio no Brasil recebia, em média, um salário de R$ 5,4 mil mensais, representando cerca de 82% da média geral da renda mensal das pessoas empregadas com ensino superior completo (R$ 6,5 mil).
Somado a essas questões, há o abandono da profissão devido às condições de trabalho precárias, como infraestrutura ruim de algumas escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência na sala de aula e problemas de saúde, agravados com a pandemia de Covid-19.
A pesquisa ainda revela que os docentes também deixam de lecionar por falta de infraestrutura adequada das escolas para o ensino. O Brasil contava, em 2021, com aproximadamente 180 mil escolas de educação básica em funcionamento, sendo 77% públicas (maioria municipais) e 23% privadas. Considerando apenas as escolas públicas (138 mil), pelo menos 3,8% não possuíam sequer banheiro, 2,6% não tinham abastecimento de água (5,8% sem acesso à água potável), 2,5% não possuíam energia elétrica e 5,5% não tinham esgotamento sanitário. Além disso, 21,6% das escolas não tinham acesso à internet e 39,9% não possuíam sala de professores.
A situação de defasagem é mais alarmante quando se trata do número de egressos em cursos de Formação de Professor de Biologia, Química, Educação Física e Letras.
Outro aspecto bastante relevante da pesquisa trata da saúde dos professores, em especial, a saúde mental, que já estava no limite e foi agravada com a pandemia de Covid-19. Essa classe de trabalhadores é uma das que mais sofre do chamado burnout, síndrome de esgotamento físico e mental, que tem sido apontada por diversas pesquisas como a principal causa de afastamento de professores.
Em 2021, menos da metade desses profissionais (47%) avaliou sua saúde mental como boa ou excelente, mais de 34% continuaram reclamando do estresse prolongado e 72% disseram não ter acesso a apoio psicológico para cuidar da saúde mental.
O Instituto Semesp é responsável por estudos e pesquisas divulgados anualmente pelo Semesp, como o Mapa do Ensino Superior no Brasil e a Pesquisa sobre Cursos de Especialização Lato Sensu no Brasil, entre outros diagnósticos considerados essenciais para a compreensão do setor. Semesp é uma entidade que representa as mantenedoras de ensino superior do Brasil e tem como objetivo prestar serviços de orientação especializada aos seus associados. (Equipe Estudos em Sorocaba, com informações do Instituto Semesp)