De Sorocaba para o mundo
Os satélites foram embarcados ontem em no balão BAA-Sorocaba, integrando a iniciativa de estabelecer Sorocaba como base operacional de experimentos científicos de baixa órbita em toda a região. “Queremos levar o nome da nossa cidade para além dos seus limites territoriais e mostrar que é possível desenvolver tecnologia de ponta a partir de escolas públicas, com o apoio da iniciativa privada e de outras instituições públicas”, diz a professora Yolanda Andrade, responsável pelo projeto.
Por volta das 11h30, a equipe comunicou a torre de comando do Aeroporto de Sorocaba, que liberou o lançamento a partir das 12h. “Foi acima de 25 km”, comemora a professora, que juntamente com os demais membros do projeto vem lutando pelo lançamento desde o início do ano.
Mesmo com uma trajetória de classificação nas três primeiras fases da Olimpíada Brasileira de Satélites do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MTCI) e com apresentação no Science Days, que ocorreu este ano em Campinas, o satélite correu o risco de ficar apenas no projeto. Isso pela dificuldade em apoio financeiro para comprar o tal do gás hélio.
O professor pesquisador César Hipólito afirma que um lançamento custa entre R$ 8 e R$ 9 mil devido ao valor do gás hélio. “Vivemos em busca de patrocínio”, diz.
Conforme Yolanda, o grupo buscou o apoio da Prefeitura de Sorocaba através do Parque Tecnológico. “Solicitamos o financiamento do gás hélio, mas infelizmente não conseguimos”, afirma Yolanda. O PTS colaborou apenas com a impressão em 3D do satélite. E assim teve continuidade a busca para a concretização do lançamento. Foram meses até conseguir. O apoio veio de fora da cidade, por meio de um lançamento apenas para teste que a UFABC, de São Bernardo do Campo, faria em Sorocaba. “Eles não utilizariam todo o gás e cederam o restante para nós”, conta Yolanda.
O projeto, que começou despretensiosamente dentro da escola, no ano passado, foi ganhando destaque e agora se tornou independente.
Professora de Geografia na escola pública há 21 anos, Yolanda durante toda a sua carreira sempre buscou envolver seus alunos em projetos que unem Geografia e Ciências, chamados de Geociências. Ela afirma que a proposta maior do lançamento de satélites como o Sorosat-1 e 2, está em desenvolver o pensamento científico e tecnológico nas escolas. “O projeto teve um enriquecimento de conhecimento inclusive no desenvolvimento computacional. São tantas as vantagens que é difícil mensurar”, complementa.
Dois dos estudantes que participaram do projeto aceitaram contar para a reportagem as suas experiências. Caio de Andrade Nogueira atua na área de desenvolvimento de jogos, sites e aplicativos desde 2020 e anteriormente ao projeto já tinha conhecimento de algumas linguagens de programação. “Atualmente já possuo um conhecimento mais vasto da área e com isso sinto que tive grande participação no projeto. Em uma decisão da equipe eu me tornei responsável pelo desenvolvimento computacional e a manutenção e utilização de qualquer ferramenta digital para o desenvolvimento do satélite”, conta.
Para Caio, o projeto tem grande impacto em sua minha vida acadêmica. Ele acredita que futuramente venha impactar diretamente sua vida profissional. “O projeto também me proporcionou total admiração e respeito pelo trabalho dos professores orientadores, não só pelo apoio que queríamos mas também pela oportunidade que precisávamos.”
Luiz Fernando Alves Santos afirma que os satélites são fruto de um árduo trabalho realizado por ele e seus companheiros. “Muito importante pra mim é claro, pois tenho como objetivo cursar engenharia aeroespacial no ITA. Esse satélite só alavancou ainda mais esse meu apreço pela área”.
A função de Fernando foi a montagem das placas eletrônicas. “Eu soldava o microcontrolador e os sensores de captação de dados em uma PCB. Foram duas dessas placas, uma voltada à radiação, outra a dados atmosféricos e uma placa geiger”.
O projeto durou quase um ano, lembra ele. “Começamos no início de 2023 e fechamos o satélite pela última vez em dezembro, porém depois disso realizamos algumas mudanças, principalmente do hardware, que é a minha área, realizando troca por um microcontrolador melhor e com mais funções.”
Conforme o estudante, a ideia inicial era que a partir da popularidade do projeto, Sorocaba virasse um polo de lançamento de satélites, porém, verba é algo complicado. “É muito difícil patrocínio na área científica, mas nós não desistimos. A professora Yolanda me ensinou: o ‘não’ já temos.”